terça-feira, 30 de setembro de 2008

Canção do exílio



Minha terra tem macieiras da Califórnia

onde cantam gaturamos de Veneza.

Os poetas da minha terra são pretos

que vivem em torres de ametista,

os sargentos do exército são monistas,

cubistas, os filósofos são polacos

vendendo a prestações.

A gente não pode dormir

com os oradores e os pernilongos.

Os sururus em família

têm por testemunha a Gioconda.

Eu morro sufocado em terra estrangeira.

Nossas flores são mais bonitas

nossas frutas mais gostosas

mas custam cem mil réis a dúzia.

Ai quem me dera chupar

uma carambola de verdade

e ouvir um sabiá com certidão de idade!
De Poemas (1925-1931)