segunda-feira, 20 de outubro de 2008

JUCA PIRAMA












Meu canto de morte,


Guerreiros, ouvi:


Sou filho das selvas,


Nas selvas cresci;


Guerreiros, descendo


Da tribo tupi.



Da tribo pujante,


Que agora anda errante


Por fado inconstante,


Guerreiros, nasci;


Sou bravo, sou forte,


Sou filho do Norte;


Meu canto de morte,


Guerreiros, ouvi.



Já vi cruas brigas,


De tribos imigas,


E as duras fadigas


Da guerra provei;


Nas ondas mendaces


Senti pelas faces


Os silvos fugaces


Dos ventos que amei.



Andei longes terras


Lidei cruas guerras,


Vaguei pelas serras


Dos vis Aimoréis;


Vi lutas de bravos,


Vi fortes — escravos!


De estranhos ignavos


Calcados aos pés.



E os campos talados,


E os arcos quebrados,


E os piagas coitados


Já sem maracás;


E os meigos cantores,


Servindo a senhores,


Que vinham traidores,


Com mostras de paz.



Aos golpes do imigo,


Meu último amigo,


Sem lar, sem abrigo


Caiu junto a mi!


Com plácido rosto,


Sereno e composto,


O acerbo desgosto


Comigo sofri.



Meu pai a meu lado


Já cego e quebrado,


De penas ralado,


Firmava-se em mi:


Nós ambos, mesquinhos,


Por ínvios caminhos,


Cobertos d’espinhos


Chegamos aqui!



O velho no entanto


Sofrendo já tanto


De fome e quebranto,


Só qu’ria morrer!


Não mais me contenho,


Nas matas me embrenho,


Das frechas que tenho


Me quero valer.



Então, forasteiro,


Caí prisioneiro


De um troço guerreiro


Com que me encontrei:


O cru dessossêgo


Do pai fraco e cego,


Enquanto não chego


Qual seja, — dizei!



Eu era o seu guia


Na noite sombria,


A só alegria


Que Deus lhe deixou:


Em mim se apoiava,


Em mim se firmava,


Em mim descansava,


Que filho lhe sou.



Ao velho coitado


De penas ralado,


Já cego e quebrado,


Que resta? — Morrer.


Enquanto descreve


O giro tão breve


Da vida que teve,


Deixai-me viver!



Não vil, não ignavo,


Mas forte, mas bravo,


Serei vosso escravo:


Aqui virei ter.


Guerreiros, não coro


Do pranto que choro:


Se a vida deploro,


Também sei morrer.




GONÇALVES DIAS







UM ÍNDIO



Um índio descerá de uma estrela colorida brilhante


de uma estrela que virá numa velocidade estonteante


e pousará no coração do hemisfério sul


na américa num claro instante


depois de exterminada a última nação indígena


e o espírito dos pássaros das fontes de água límpida


mais avançado que a mais avançada


das mais avançadas das tecnologias




virá


impávido que nem Muhamed Ali


virá que eu vi


apaixonadamente como Peri


virá que eu vi


tranqüilo e infalível como Bruce Lee


virá que eu vi


o axé do afoxé, Filhos de Gandhi


virá




um índio preservado em pleno corpo físico


em todo sólido , todo gás e todo líquido


em átomos, palavras, alma, cor,


em gesto, em cheiro, em sombra,


em luz, em som magnífico


num ponto eqüidistante entre o Atlântico e o Pacífico


do objeto sim resplandecente descerá o índio


e as coisas que ele dirá , fará não dizer


assim de de um modo explícito




virá


impávido que nem Muhamed Ali


virá que eu vi


apaixonadamente como Peri


virá que eu vi


tranqüilo e infalível como Bruce Lee


virá que eu vi o axé do afoxé, Filhos de Gandhi


virá



e aquilo que nesse momento se revelará aos povos


surpreenderá a todos não por ser exótico


mas pelo fato de poder estar sempre


estado oculto quando terá sido o óbvio


Visão.




CAETANO VELOSO
PARÁFRASE - UM ÍNDIO - CAETANO VELOSO
Foi em 2500, a nave Indian II com 50 tripulantes, descem ao Brasil. O coração da América. A nave vem numa grande velocidade. Possui uma avançada tecnologia, da qual ninguém jamais viu.
Eles vieram fortes como guerreiros, infalíveis e calmos, sem nada a temer.
Chegaram "normalmente" à Terra, diferentes de todos. Desceram de sua nave, sem nada a dizer, pois não havia entendimento e comunicação.
Aquilo que se revelou surpreendeu os povos por estarem sempre escondidos, por serem tão diferentes e frágeis. Seria uma visão?
MILENA EVELYN DA COSTA 8C

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